Bolsonaro não é Trump, o Brasil não é o EUA

Não trabalho com exercícios de futurologia. Mas os horizontes de expectativas de que dispomos se constituem a partir de possibilidade e regras já dadas no presente. E a partir delas é possível fazer ou traças alguns prognósticos. O primeiro deles é bem direto: Bolsonaro não será presidente. Por mais que queiram compará-lo ao acontecimento Trump, nos EUA, afirmo Bolsonaro não é Trump e o Brasil não é os EUA. Argumento. Se observarmos as últimas sete campanhas presidenciais no pós-ditadura civil-militar, nenhum presidente chegou a ser eleito sendo candidato de si mesmo ou sem o apoio de uma ampla estrutura, seja ela partidária, de mídia, de movimentos sociais. Talvez o caso da candidatura mais próxima a que hoje se consolida em torno de nome de Bolsonaro tenha sido a de Fernando Collor, que também usava um discurso moralizador e anticorrupção e se mostrava como o novo, apesar de ser um filho das oligarquias e das elites políticas de Alagoas. Isto fez Collor seguir para o segundo turno com uma ampla frente de apoio das oligarquias regionais, assim como arregimentar praticamente todo o conglomerado de mídia familiar em torno do seu nome, rede Globo a frente – quem não lembra da edição criminosa do último debate dele com Lula? Mas Bolsonaro não é Collor. As oligarquias regionais não estão em torno de Bolsonaro e não parecem dispostas a apoiá-lo. Ao menos, não por hora. E o próprio Bolsonaro diz recusá-las, pois corruptas. E, segundo ele, com este tipo de gente não faria aliança. Bolsonaro está preso em uma armadilha que ele mesmo criou. Pois, no Brasil, não se ganha uma campanha presidencial sem se fazer alianças, sem se ter capilaridade social. Sem ter prefeitos, candidatos a deputados estaduais e federais, senadores e candidatos a senadores que levem seu nome, sua bandeira e suas ideias para todos os rincões do país. Sem esta base para dar capilaridade é praticamente impossível se eleger presidente no Brasil. Bolsonaro também não parece tolerar alianças com qualquer espectro das esquerdas, que tem em movimentos sociais e sindicatos um forte braço de militância política. Neste sentido, Bolsonaro parece ser até hoje candidato de si mesmo. O Messias contra todos. A realidade de uma campanha política em um país continental ainda não lhe bateu a porta. Para fazer campanha presidencial no Brasil é preciso, também, estrutura financeira. E com as novas regras aprovadas, Bolsonaro só seria viável se filiado a um grande partido político, o que parece não ser o caso. Até o momento nenhum parece estar disposto a lhe dar legenda. Hoje ele roda o Brasil usando sua cota parlamentar e fazendo campanha de aeroporto onde, geralmente, seu secto de homens geralmente brancos, estilo bombados de academia, suados e se acotovelando se empurram e se atracam, como fãs ensandecidos do Justin Bieber tropical, para levar “o mito” nas costas. Faltará a Bolsonaro, durante a campanha, tempo de televisão. Um fator também primordial numa campanha presidencial. Que o diga Marina Silva, um fenômeno que, na eleição passada, aparecia com densidade eleitoral muito maior que a de Bolsonaro hoje, e ainda por cima surfando na onda da comoção nacional em torno da morte de Eduardo Campos, mas que não resistiu a um mês de dura e intensa campanha de rádio e televisão. Sem contar que Marina é muito mais preparada que “o mito”. Bolsonaro também não conta com a simpatia da grande mídia. Joga, muitas vezes, contra ela. É desse diversionismo que tira parte de seus admiradores. Esta mídia, se sentir a ameaça Bolsonaro em torno do seu candidato de predileção no segundo turno, não medirá esforços em destruí-lo, como já começa a apontar a Veja desta semana. Some-se a isso o despreparo e o desequilíbrio do próprio Bolsonaro. A imagem Bolsonaro não resiste a dois debates em rede nacional e a uma entrevista ao JN. Ele não sabe nada de política econômica, de políticas de saúde e educação, de controle de inflação, de relações de comércio internacional. Até nisto Trump lhe dar de goleada. Ao contrário deste, Bolsonaro é um boçal. É um ex-milico a moda antiga, que acha que tudo se resolve na força e na porrada. Para quem o cultivo da inteligência e do conhecimento são coisas de maricas. Quer ver um retrato disso, assistam aos debates e entrevistas de seu filho, Eduardo Bolsonaro, na última eleição para Prefeito no Rio de Janeiro. O que realmente preocupa na candidatura Bolsonaro é saber que no Brasil de hoje há cerca de 8% da população – que correspondem aos 16 % que dizem votar nele – que pensam e agem tendo a imagem de Bolsonaro como algo que os representa. Isto sim é preocupante. E mais preocupante ainda é saber que do universo de seus eleitores, cerca de 60 % são jovens, entre 16 e 24 anos de idade, segundo o último Datafolha, geralmente homens, brancos, classe média, escolarizados. Isto mostra que teremos de conviver no Brasil, ainda por muito tempo, com as marcas e as sementes do fascismo. Com o discurso de ódio, de incentivo a violência como meio de solucionar os conflitos sociais. Com a estupidez e ignorância como produtos do medo e do desamparo que tem tomado de conta desta parcela da população, que nasceu e cresceu dentro das benesses de um estado de bem-estar social e que hoje vê seus horizontes de expectativas limitados por uma crise política e econômica que nunca haviam visto na vida. O voto Bolsonaro é esse voto de medo e desespero. É um voto inseguro em busca da segurança que vislumbram no macho alfa, “no mito”. No fundo são jovens desamparados que não sabem lidar com a liberdade que o mundo onde nasceram os proporciona e que agora procuram um pai que os discipline. Infelizmente teremos de lidar com meninos mimados por muito tempo. O que não é o problema. O problema é que são geralmente meninos mimados e desamparados que são usados para emprenhar e fazer a cadela do fascismo procriar seus filhotes. É aqui que mora o perigo da candidatura Bolsonaro, não por que ele seja a cadela do fascismo, mas por que é ele quem alimenta quem pode emprenha-la. Wagner Geminiano Doutorando em História pelo PPGH-UFPE.

Não trabalho com exercícios de futurologia. Mas os horizontes de expectativas de que dispomos se constituem a partir de possibilidade e regras já dadas no presente. E a partir delas é possível fazer ou traças alguns prognósticos. O primeiro deles é bem direto: Bolsonaro não será presidente. Por mais que queiram compará-lo ao acontecimento Trump, nos EUA, afirmo Bolsonaro não é Trump e o Brasil não é os EUA. Argumento. Se observarmos as últimas sete campanhas presidenciais no pós-ditadura civil-militar, nenhum presidente chegou a ser eleito sendo candidato de si mesmo ou sem o apoio de uma ampla estrutura, seja ela partidária, de mídia, de movimentos sociais. Talvez o caso da candidatura mais próxima a que hoje se consolida em torno de nome de Bolsonaro tenha sido a de Fernando Collor, que também usava um discurso moralizador e anticorrupção e se mostrava como o novo, apesar de ser um filho das oligarquias e das elites políticas de Alagoas.

Isto fez Collor seguir para o segundo turno com uma ampla frente de apoio das oligarquias regionais, assim como arregimentar praticamente todo o conglomerado de mídia familiar em torno do seu nome, rede Globo a frente – quem não lembra da edição criminosa do último debate dele com Lula? Mas Bolsonaro não é Collor. As oligarquias regionais não estão em torno de Bolsonaro e não parecem dispostas a apoiá-lo. Ao menos, não por hora. E o próprio Bolsonaro diz recusá-las, pois corruptas. E, segundo ele, com este tipo de gente não faria aliança. Bolsonaro está preso em uma armadilha que ele mesmo criou. Pois, no Brasil, não se ganha uma campanha presidencial sem se fazer alianças, sem se ter capilaridade social. Sem ter prefeitos, candidatos a deputados estaduais e federais, senadores e candidatos a senadores que levem seu nome, sua bandeira e suas ideias para todos os rincões do país. Sem esta base para dar capilaridade é praticamente impossível se eleger presidente no Brasil. Bolsonaro também não parece tolerar alianças com qualquer espectro das esquerdas, que tem em movimentos sociais e sindicatos um forte braço de militância política. Neste sentido, Bolsonaro parece ser até hoje candidato de si mesmo. O Messias contra todos.

A realidade de uma campanha política em um país continental ainda não lhe bateu a porta. Para fazer campanha presidencial no Brasil é preciso, também, estrutura financeira. E com as novas regras aprovadas, Bolsonaro só seria viável se filiado a um grande partido político, o que parece não ser o caso. Até o momento nenhum parece estar disposto a lhe dar legenda. Hoje ele roda o Brasil usando sua cota parlamentar e fazendo campanha de aeroporto onde, geralmente, seu secto de homens geralmente brancos, estilo bombados de academia, suados e se acotovelando se empurram e se atracam, como fãs ensandecidos do Justin Bieber tropical, para levar “o mito” nas costas. Faltará a Bolsonaro, durante a campanha, tempo de televisão. Um fator também primordial numa campanha presidencial. Que o diga Marina Silva, um fenômeno que, na eleição passada, aparecia com densidade eleitoral muito maior que a de Bolsonaro hoje, e ainda por cima surfando na onda da comoção nacional em torno da morte de Eduardo Campos, mas que não resistiu a um mês de dura e intensa campanha de rádio e televisão. Sem contar que Marina é muito mais preparada que “o mito”.

Bolsonaro também não conta com a simpatia da grande mídia. Joga, muitas vezes, contra ela. É desse diversionismo que tira parte de seus admiradores. Esta mídia, se sentir a ameaça Bolsonaro em torno do seu candidato de predileção no segundo turno, não medirá esforços em destruí-lo, como já começa a apontar a Veja desta semana. Some-se a isso o despreparo e o desequilíbrio do próprio Bolsonaro. A imagem Bolsonaro não resiste a dois debates em rede nacional e a uma entrevista ao JN. Ele não sabe nada de política econômica, de políticas de saúde e educação, de controle de inflação, de relações de comércio internacional. Até nisto Trump lhe dar de goleada. Ao contrário deste, Bolsonaro é um boçal. É um ex-milico a moda antiga, que acha que tudo se resolve na força e na porrada. Para quem o cultivo da inteligência e do conhecimento são coisas de maricas. Quer ver um retrato disso, assistam aos debates e entrevistas de seu filho, Eduardo Bolsonaro, na última eleição para Prefeito no Rio de Janeiro.

O que realmente preocupa na candidatura Bolsonaro é saber que no Brasil de hoje há cerca de 8% da população – que correspondem aos 16 % que dizem votar nele – que pensam e agem tendo a imagem de Bolsonaro como algo que os representa. Isto sim é preocupante. E mais preocupante ainda é saber que do universo de seus eleitores, cerca de 60 % são jovens, entre 16 e 24 anos de idade, segundo o último Datafolha, geralmente homens, brancos, classe média, escolarizados. Isto mostra que teremos de conviver no Brasil, ainda por muito tempo, com as marcas e as sementes do fascismo. Com o discurso de ódio, de incentivo a violência como meio de solucionar os conflitos sociais. Com a estupidez e ignorância como produtos do medo e do desamparo que tem tomado de conta desta parcela da população, que nasceu e cresceu dentro das benesses de um estado de bem-estar social e que hoje vê seus horizontes de expectativas limitados por uma crise política e econômica que nunca haviam visto na vida.

O voto Bolsonaro é esse voto de medo e desespero. É um voto inseguro em busca da segurança que vislumbram no macho alfa, “no mito”. No fundo são jovens desamparados que não sabem lidar com a liberdade que o mundo onde nasceram os proporciona e que agora procuram um pai que os discipline. Infelizmente teremos de lidar com meninos mimados por muito tempo. O que não é o problema. O problema é que são geralmente meninos mimados e desamparados que são usados para emprenhar e fazer a cadela do fascismo procriar seus filhotes. É aqui que mora o perigo da candidatura Bolsonaro, não por que ele seja a cadela do fascismo, mas por que é ele quem alimenta quem pode emprenha-la.

Wagner Geminiano
Doutorando em História pelo PPGH-UFPE.

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