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O modo Fufuca de governar – Por Edilson Silva – Blog Ponto de Vista

O modo Fufuca de governar – Por Edilson Silva

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Edilson Silva

*Edilson Silva

Ana Moser, agora ex Ministra dos Esportes, cedeu seu lugar ao deputado Fufuca (PP-MA). Fufuquinha para os íntimos. Eu já tinha ouvido falar deste deputado, mas, ignorância política minha, o apelido sempre me fazia imaginá-lo abraçado com o também deputado Tiririca, o palhaço, “pior do que tá não fica”. Quando vi Fufuca cotado para ministério, percebi o tamanho da minha ignorância.

Eu também não sabia o exato significado da expressão Fufuca. Por preguiça, talvez, sempre preferi deduzir. Fufuca, muvuca, farofa, furunfa, furdunçu, fofoca… deve ser algo por aí, pensei, com minha mente “suja”. Algo pouco sério, sem sobriedade, informal, prazeroso, uma inocência safadinha, uma maldade gostosa pra ambas as partes.

Indo ao vernáculo, só os informais apontam um significado meio difuso para Fufuca. Seria uma expressão de contrariedade, espanto, surpresa. Com qualquer coisa, boa ou ruim. Ou seja, quando vi Fufuca assumindo um ministério eu poderia ter dito: “Fufuca!!!”. Então, os primos legítimos de Fufuca seriam os genéricos “meu deus!”; “meu Jesus do céu!”. Aqui em Pernambuco seria: “porra!”; “carai!”; “mermão!”; “tá ca porra!”; “tá cu carai o que?!”. Acho que no Pará seria: “égua!”. Entre os gaúchos: “barbaridade!”, ou a forma reduzida “Bah!”. Galvão Bueno: “olha o que ele fez, olha o que ele fez!!!”. Minha falecida mãe: “sangue de Cristo!!!”.

Olhando com cuidado, porém, o contexto histórico e as circunstâncias, eu não estava tão equivocado assim quando deduzi o significado da expressão Fufuca. A língua portuguesa é uma entidade viva, que circula nos contextos e ambientes se adaptando, exercitando sua elasticidade e evolução etimológica e semântica. Neste sentido, que outra expressão poderia simbolizar melhor a troca de Ana Moser por Fufuca? Não teria novo titular para a pasta com alcunha mais perfeita. Qual palavra abarcaria no seu estrito limite a entrada formal e meticulosamente articulada do Centrão na base do governo? Fufuca! Foi uma fufucagem. Uma fufucadinha. Uma maldade com limites, controlada, necessária.

A expressão Fufuca poderia resolver inclusive um hiato terminológico acerca da forma de governo que temos no Brasil. Presidencialismo de coalizão? Semi presidencialismo? Semi parlamentarismo? Parlamentarismo de ocasião, de balcão? Nada disso. Fosse Bobbio vivo – sim, o Norberto, atualizaria sua obra, acrescentando a Forma Fufuca de Governo, que conteria esta resultante exótica e única, construída com simplicidade e pragmatismo pela sociedade brasileira, e cuja espinha dorsal foi desenhada cirurgicamente pelo imortal Ulisses Guimarães na Constituição Cidadã.

Aos céticos: se Portugal, terra materna do nosso idioma, assumiu a expressão Geringonça para definir um arranjo político local, por que não podemos aqui dar a nossa fufucadinha? A sabedoria popular ensina: quem não se comunica se trumbica; quem não tem cão, caça com gato. E nesta quadra conjuntural que vivemos na política brasileira, quem não fufuca, se trumbica, pode virar a caça e, com certeza, não governa. Nosso presidente não é de fufucar por vício ou opção, mas bora combinar: se tiver que fufucar, ele fufuca com maestria, a vera, e de com força, como se diz aqui no meu país Pernambuco. Ainda bem.

* Ativista do movimento negro, ex-deputado estadual em Pernambuco

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